5 motivos para assistir One Day at a Time



Viva la buena revolución!

Atenção! Contém spoilers das duas primeiras temporadas de One Day at a Time.

Estreia nesta sexta-feira (08/02) a terceira temporada de ONE DAY AT A TIME. A série da Netflix é um remake da sitcom homônima exibida originalmente entre 1975 e 1984 pela CBS.
A primeira versão, sucesso entre o público norte-americano, contava a história de Ann Romano (Bonnie Franklin), uma mulher recentemente divorciada que acabara de se mudar para um apartamento em Indianápolis com suas filhas adolescentes (interpretadas por Mackenzie Phillips e Valerie Bertinelli) e fazia amizade com o zelador do prédio, Schneider (Pat Harrington).
Já na versão atual, acompanhamos as histórias de uma família de origem cubana. Agora, a mãe é Penélope Alvarez (Justina Machado), enfermeira que serviu com as tropas americanas no Afeganistão após os ataques do dia 11 de setembro de 2001. Diferentemente da primeira versão, Penélope vive em Los Angeles com seus filhos, Elena (Isabella Gomez) e Alex (Marcel Ruiz), e sua mãe, Lydia (Rita Moreno). Na nova versão, Schneider, o melhor amigo da família, é interpretado por Todd Grinnell.
Com duas temporadas, até agora, ONE DAY AT A TIME é uma das séries mais bem avaliadas do serviço de streaming, tanto pela crítica especializada quanto pelo público em geral. Um dos vários motivos para isso, com certeza, é a forma com que assuntos relevantes e contemporâneos são abordados num roteiro simples, porém com textos incisivos e críticos a toda e qualquer forma de preconceito. Exemplo disso é que, não bastasse essa premissa, já em sua primeira temporada, lançada dias antes da posse de Donald Trump como presidente dos EUA, em janeiro de 2017, a série tratou de assuntos como feminismo, homofobia e xenofobia de maneira natural e, até mesmo, didática.
Seguindo a linha “afronte pouco é bobagem”, a segunda temporada continuou mexendo nas mesmas feridas com piadas pontuais e um humor, digamos, um pouco ácido, porém necessário.
Em meio a tanto discurso vazio e repetitivo, ONE DAY AT A TIME é uma luz suave que reaviva o gênero das sitcons com a tradicionalidade exigida na fórmula, mas também com teor político e seriedade para tratar de tantos assuntos delicados.
À espera da estreia da terceira temporada, listamos cinco assuntos abordados na série que podem ser bons motivos para que você se torne fã e que podem ser também motivos para que ela seja considerada uma das melhores sitcons já produzidas.

Imigrantes: preconceito e direitos civis

Penélope  (Justina Machado) discute com americano que pediu a sua família que falasse mais baixo.
Como dito anteriormente, a família protagonista da série tem origem cubana. A matriarca-mor, Lydia, foi embora para os EUA fugindo da ditadura de Fidel Castro e lá se estabeleceu com seu amado, Berto (Tony Plana). Um tempo depois tiveram uma filha, Lupe (como Lydia chama Penélope), que, por sua vez, teve dois filhos, Elena e Alex. Mas o ponto é que ser uma família latina em terras do tio Sam não é fácil e essa é uma das principais mensagens que a série passa.
Como é de se esperar, o preconceito sofrido por pessoas como nós enquanto estrangeiros nos EUA é um assunto recorrente na vida dos Alvarez. No primeiro episódio da segunda temporada, por exemplo, Alex agride um garoto de outra escola durante uma excursão. O motivo é que esse garoto o mandou voltar ao México, e isso só porque ele ouviu Alex conversando com alguns amigos em espanhol. Ao ser repreendido por sua mãe, ele conta que aquela não era a primeira vez que algo do tipo acontecia. Generalizar e colocar todos os latino-americanos num único pacote ainda é, infelizmente, muito comum entre estrangeiros preconceituosos.

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Ainda no mesmo episódio, já no fim, a família está numa sorveteria e começa a cantar em espanhol. Logo em seguida, um homem norte-americano se levanta e os repreende pela “fiesta” (como ele próprio se refere à cantoria). É então que Penélope barra o homem na porta e lhe dá uma boa lição de moral, mas, infelizmente, ele não dá a mínima. Como ela própria diz: “Se a gente briga, eles ganham. Se a gente não briga, eles também ganham.”
Outro ponto relevante que a série não deixa passar em branco é a questão dos direitos civis de imigrantes nos EUA. Em determinado momento da segunda temporada, descobrimos que Lydia e Schneider (que é canadense) não têm cidadania americana, apenas um green card. Por isso, dentre outros impedimentos, não podem votar, concorrer a cargos públicos e não podem se ausentar do país por mais de um ano sem justificar a ausência ao governo, senão correm o risco de perder o documento.

As mulheres e a prática do feminismo

A luta e os argumentos de Elena (Isabella Gomez) quase sempre são incompreendidos, inclusive pela avó, Lydia (Rita Moreno).
No início da série Elena é uma adolescente prestes a fazer quinze anos. Como manda a tradição de sua família, ela deve ter uma bela festa no dia do seu aniversário: a quinces. Acontece, porém, que Elena é totalmente contra essa e outras tradições e convenções que passam de geração para geração sem que ninguém questione os fundamentos e a origem deles (no fim, Elena aceita a festa, mas por motivos compreensíveis). Ela é uma feminista que luta, inclusive entre a própria família, para quebrar estereótipos e padrões pré-definidos para e sobre os papéis das mulheres na sociedade.
Quase sempre, a reação imediata que causa nas pessoas (especialmente em sua abuelita, Lydia) se resume em reviradas de olhos e falta de interesse. Mas isso não quer dizer que o argumento da série seja falho ou mesmo contraditório, pois a intenção é retratar a vida de uma família latino-americana nos EUA tal qual ela é, e ela é assim. Uma mãe divorciada que lida com toda pressão de ser mulher latina em terra dominada por homens brancos; uma avó católica reaprendendo com a família, às vezes com certa dificuldade, os mecanismos em constante mudança; um neto educado por mulheres que sofre bullying por ser latino; uma neta adolescente assumidamente feminista que tenta ajudar todos os outros a entenderem que a vida é feita de infinitas outras possibilidades do que aquelas que nos ensinam enquanto crescemos.

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Mas Elena, apesar de ser a representante mais visível da luta na série, não é a única que fala ou age sobre o feminismo. Penélope, por exemplo, decide estudar mais para se tornar enfermeira-chefe logo depois de descobrir que seu colega de trabalho, que tem o mesmo cargo e é encarregado das mesmas funções que ela, recebe mais por seu trabalho, talvez apenas por ele ser homem. Mas, comparado ao fato de ela ser uma mulher, uma mãe e uma filha mais do que espetacular, isso é só um bônus.
Até mesmo Lydia que, por várias vezes, repreende as atitudes da neta, tem práticas claramente feministas. Além de ser naturalmente empoderada (apesar de não compreender muito as questões da luta), um exemplo disso é quando ela apoia Elena ao descobrir que a neta é lésbica, ou também quando ela faz um terno, em vez de um vestido, para Elena usar durante sua quinces.
A série, assim como fazemos na vida real, busca explicar a complexa prática feminista e suas várias nuances e contrastes. Há quem entenda a teoria do assunto e busca espalhar seu conhecimento para todos a sua volta, assim como também há quem pratica o feminismo em pequenas e, até mesmo, grandes ações, mas sem nem se dar conta disso.

Transtorno do estresse pós-traumático

Ao voltar do Afeganistão, Penélope (Justina Machado) desenvolve transtorno do estresse pós-traumático.
Como já mencionado, Penélope serviu ao exército dos EUA no Afeganistão como enfermeira. Ela e seu ex-marido, Victor (James Martinez), trabalharam juntos no período em que serviram. Ao voltarem, em decorrência de suas experiências junto ao exército, Victor se tornou alcoólatra (um dos motivos que os levaram ao divórcio) e Penélope desenvolveu transtorno do estresse pós-traumático (TEPT).
Para amenizar os sintomas, ela entra para um grupo de apoio de ex-militares, onde pode se abrir e conhecer pessoas novas que entendem suas aflições, e toma antidepressivos. No nono episódio da segunda temporada, porém, ao perceber que tudo em sua vida estava “cor-de-rosa”, ela decide parar com a terapia e os remédios. Este é um dos episódios com carga emocional mais pesada de toda série até agora, pois vemos o que a angústia e o desespero fazem com alguém que tem algum tipo de transtorno como TEPT ou depressão, por exemplo.

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Durante o período que deixa o tratamento de lado, Penélope fica reclusa, longe da luz do dia, do contato com a família e amigos – chegando, inclusive, a afastar as pessoas mais próximas – e sente que não há nada que ela possa fazer para preencher o vazio que há dentro de si. No entanto, o apoio das pessoas ao seu redor é de fundamental importância para sua recuperação e continuidade no tratamento.
Outra questão importante citada em outro episódio é da burocracia e lentidão no sistema de atendimento do governo americano voltado aos veteranos, que é um dos vários motivos pelos quais muitos deles escolhe não procurar ajuda.

Identidade LGBT

Elena (Isabella Gomez) se assume lésbica na primeira temporada e, na segunda, encontra uma namorada, Syd (Sheridan Pierce).
Já perto do fim da primeira temporada, Elena se assume lésbica para a família. Alex e Schneider já sabiam, e ambos reagiram muito bem. Lydia, apesar de ser católica, toma a frase “Quem sou eu para julgar”, do Papa Francisco, direcionada à comunidade LGBT, como fundamento para sua aceitação e logo dá dicas de paquera para a neta. Penélope, por outro lado, faz parecer que aceita de imediato enquanto que, na verdade, não consegue aceitar tão bem quanto ela própria gostaria.
Antes de se assumir, Elena já demonstrava sinais de que havia algo que a deixava inquieta. Ao passar a conviver cada vez mais com sua amiga gótica Carmen (Ariela Barer), Lydia chega a levantar suspeitas sobre a sexualidade da neta, algo que Penélope ignora. Entretanto, com o passar do tempo e com a descoberta de um vídeo pornô lésbico no notebook de Alex, Elena encontra a oportunidade para se assumir para o resto da família.

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Penélope, enquanto mãe, naturalmente nutria certas expectativas com relação a seus filhos. Ao saber do fato, é como se tudo o que ela esperava que fosse acontecer, como se fossem regras para as relações entre mães e filhos, se quebrasse em centenas de milhares de partes e nada então seria tão bom quanto o que ela já esperava. Ela chega, inclusive, a ir num bar LGBT para uma “experiência imersiva”, a fim de compreender melhor a realidade. E funciona, mas, novamente, não como o esperado. Ela conversa com um homem que ajuda a esclarecer o que estava sentindo e a faz entender que tudo passaria e o que sobraria seria apenas o amor que sentia por sua filha.
Já na segunda temporada, Elena arruma uma namorada que pertence ao mesmo grupo de interesse que ela. Syd (Sheridan Pierce) é uma adolescente não binária cujos pronomes que prefere ser referida são “eles” e “deles”.
Apesar de toda consciência e luta de causa, Elena, por vezes, parece desconfortável em assumir seu relacionamento em público, e é justamente “eles” quem dá apoio e força para ela assumir a própria identidade.

Rita Moreno, uma estrela latina

Rita Moreno, que dá vida à diva Lydia Riera, é a grande estrela da série.
Porto-riquenha, cantora, dançarina, atriz, primeira e única mulher latina a vencer um Emmy, um Grammy, um Tony e um Oscar. Rita Moreno tem 87 anos e é a grande estrela de ONE DAY AT A TIME, além de ser um dos maiores nomes do período conhecido como Era de Ouro do Cinema Americano, tendo participado de filmes como “Cantando na Chuva” (1952), “O Rei e Eu” (1956) e “Amor Sublime Amor” (1961), onde fez o papel de Anita, pelo qual venceu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em 1962. Quando chegou a Hollywood, como ela mesma conta no documentário “Carmen Miranda: Bananas is My Business” (1995), foi orientada a ser “ardente para chamar atenção”, como se ela precisasse ser uma espécie de caricatura para o pessoal do cinema notá-la.
Assim como Carmen Miranda, Rita foi durante muito tempo uma espécie de símbolo injustamente estereotipado da América Latina. Carmen morreu em 1955, antes de poder mostrar ao mundo que embaixo de seus turbantes extravagantes e de todos os balangandãs havia muito mais do que samba no pé e estereótipos impostos. Rita, felizmente, viveu para resistir e dar vida a uma personagem numa série de um serviço de streaming que tem algumas boas semelhanças com sua própria trajetória na vida real. Tanto Rita quanto Lydia são divas que sofreram ao chegar aos EUA, mas que, apesar de toda opressão, não perderam a temperatura do sangue latino e são livres para pensar, falar, agir e serem quem bem entenderem.

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Rita é mais do que suas biografias dizem e, com certeza, mais do que tento explicar aqui. Mas é importante deixar claro que em tempos em que grandes nomes da música, do cinema, da TV e de outros meios são menosprezados por uma audiência cada vez mais alheia à história e do porquê de seus ídolos atuais existirem com as referências que existem, há alguém que sobreviveu às transformações do consumo audiovisual desde que chegou ao meio, no século passado, e segue firme e forte dançando salsa e com um timing de causar inveja a muitos que se dizem comediantes em tempos de YouTube.

*Texto por Bruno Carvalho

Confira abaixo o trailer da terceira temporada de ONE DAY AT A TIME:

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