Crítica | O Diabo de Cada Dia

A tão esperada adaptação da Netflix estreou no dia 16 de setembro e já causou o burburinho esperado. O longa pode até dividir opiniões sobre a forma como Antonio Campos resolveu contar a história, mas a internet está em comum acordo sobre a brilhante interpretação dos atores, principalmente a de Tom Holland e Robert Pattinson.

O longa é baseado no livro “O Mal Nosso de Cada Dia” do autor Donald Ray Pollock, se passa em um cenário pós-segunda guerra e se estende até os primeiros anos da guerra no Vietnã. A história se desenrola em partes, assim como no livro e conta com a narração do próprio Donald. 

A história se inicia com a volta de Willard (Bill Skarsgård) para casa, o veterano que está a caminho de Coal Creek, para em Ohio e conhece Charlotte (Haley Bennett) em uma lanchonete. A paixão é imediata e ali o destino já começa a ser traçado. Ao mesmo tempo, Carl (Jason Clarke) um fotógrafo sem reconhecimento profissional, conhece outra garçonete, Sandy (Riley Keough), no mesmo restaurante. O que diferencia os casais é a forma como decidem seguir a partir dali. 

Charlotte e Willard se estabelecem em Ohio após o nascimento de seu filho, mas a paz não dura por muitos anos, já em seus primeiros anos de vida, Arvin tem que lidar com uma mãe desenganada pelos médicos e um pai que comete os mais loucos atos de sacrifícios em busca de uma cura para a esposa. 

Arvin (Tom Holland) acaba tendo que se mudar para Coal Creek, onde passa a morar com a avó, seu velho tio e sua irmã de criação, Lenora (Eliza Scanlen), que também é vítima das mazelas da vida, cresce órfã após ter a mãe, Helen (Mia Wasikowska) assassinada em nome de um fanatismo religioso desmedido. O rapaz cresce levando os ensinamentos do pai e com isso passa a defender com afinco as pessoas que ama, principalmente a meio irmã que sofre constante bullying no colégio e que lida com o dissimulado pastor Preston Teagardin (Robert Pattinson). 

Do outro lado da história, em Knockemstiff, Carl conquistou Sandy e a apresentou a vida de um serial killer, os dois viajam pelas estradas dos Estados Unidos dando carona para rapazes de boa aparência que futuramente se tornaram modelos em um cenário macabro. Enquanto Sandy comete todo ato profano que consegue, sem usar uma desculpa para isso, seu irmão, o xerife Lee Bodecker (Sebastian Stan), está empenhado em abafar os casos da irmã e não deixar que ela arruíne a sua campanha. 

Com um cenário dividido entre a cidade Knockemstiff em Ohio e em Coal Creek na Virginia Ocidental a ambientalização de época consegue ressuscitar a essência do meio oeste pós-guerra de uma forma gótica, devido a extrema imposição religiosa e a violência, muitas vezes atuando em nome da crença. O toque em sépia ou muitas vezes dominado por tons frios reforça a ideia, assim como o figurino e trilha sonora. 

O roteiro apresenta a história em blocos, com a história individual de alguns dos personagens. O vai e vem faz sentido, já que adotou a mesma forma que o livro, mas em alguns pontos confunde um pouco a linha do tempo. Essa forma escolhida pelo diretor, que também assina o roteiro ao lado do irmão Paulo Campos, dividi opiniões, alguns não gostaram nada das histórias segmentadas e acreditam que causou uma sensação de superficialidade. Por outro lado, assim como o livro, o filme tem como objetivo contar a história de Arvin, mas precisa de fragmentos de outros personagens para explicá-la, assim, acabam usando pontos estratégicos e importantes que dão ascensão para a história do garoto e seu grande final. 

Donald Ray Pollock complementa a história quando se passa pelo narrador onisciente, ele complementa algumas dúvidas e esclarece algumas cenas. O narrador entra apenas em momentos chaves, dessa forma o filme não se torna um áudio book, mas usa uma outra artimanha para aprofundar a história. 

O grande destaque do filme é o elenco que conta com diversos nomes que estão em alta no mundo cinematográfico. Carregados com um sotaque do interior americano, as atuações são marcantes e muito bem desempenhadas. Cheia de personagens complexos e que comentem as mais diversas perversidades que se pode imaginar, cada ator acabou tendo pontos diferentes de destaque.

Marcado por uma violência latente, o filme reforça problemáticas como o fanatismo religioso. Em O Diabo de Cada Dia as pessoas usam a religião para justificarem atos como assassinatos, sacrifício animal, assédio, pedofilia e lidam de forma natural com o perverso, é quase como se a consciência moral fosse entorpecida por distorções da bíblia e potencializada por discursos controversos de líderes religiosos. 

Preston Teagardin e Roy Laferty (Harry Melling) como líderes religiosos, mostram como o fanatismo religioso pode envenenar através de interpretação dos ensinos religiosos para fins perversos e assim acabam influenciando fiéis que no fundo querem uma boa desculpa para acalmarem suas consciências enquanto matam e cometem outros pecados. 

Os crimes cometidos pelos personagens, são previamente premeditados, seja pela fala do narrador ou por intuição, mas não deixam de ser assustadores. São sempre carregados emocionalmente e se destaca a forma violenta são planejados e cometidos. Sandy e Carl são alguns dos personagens que cometem os atos mais perturbadores, a forma como planejam e como visitam esses momentos, chega a ser atormentador. 

Holland disse em entrevista para Variety que estava com medo quando chegou ao set de filmagem pela primeira vez, porque ele não sabia interpretar um personagem assim. Tom ainda comentou que teve que ir a lugares sombrios em sua cabeça para dar vida a Arvin. No fim o resultado ficou incrível. Holland, que é britânico, conseguiu sustentar um sotaque carregado durante todo o filme e representou muito bem um personagem que vive constantemente em uma guerra interna, entre seus picos de raiva, violência e a parte que quer apenas proteger as pessoas que ama. 

Já Robert Pattinson conquistou com a performance de mais um personagem excêntrico, com um sotaque anasalado, o futuro Batman trouxe com trejeitos uma personalidade marcante, para um personagem dissimulado, egocêntrico e que por muitas vezes se safa por sua lábia. 

Para os que leram o livro, o filme não decepciona, faz poucas alterações na história, mas elas não comprometem a história em si. Obviamente algumas coisas são cortadas e alguns personagens não são tão explorados como no livro devido ao tempo, no entanto, a totalidade da obra faz jus ao livro. 

Após algumas produções frustradas a Netflix parece finalmente acertar novamente, com um roteiro que faz sentido e boas interpretações o suspense chega bem avaliado pela maioria dos fãs do streaming, mas dividindo um pouco a opinião dos críticos. 

Assista ao Trailer:


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