Crítica | Minha Fama de Mau


Cinebiografia de Erasmo Carlos chega aos cinemas nesta quinta-feira (14/02)

Uma das novas ondas do cinema é a produção de cinebiografias de cantores e bandas consagradas. Ano passado vimos estourar um grande fenômeno chamado "Bohemian Rhapsody", que conta parte da história do Queen, e aqui no Brasil já tivemos "Elis" (2016), que narra a história da cantora Elis Regina. Neste ano ainda teremos "Rocket Man", espécie de "cinebiografia fantástica" de Elton John, e, nos próximos anos, ainda veremos a história de David Bowie e a adaptação da autobiografia de Rita Lee para as telonas. Seguindo a onda (e apesar de ter começado a produção há cerca de quatro anos), MINHA FAMA DE MAU, novo filme de Lui Farias, conta uma parte da história de Erasmo Carlos, ícone da Jovem Guarda.

Chay Suede interpreta Erasmo Carlos, o Tremendão, na cinebiografia do cantor e compositor
O longa é baseado no livro homônimo escrito pelo próprio cantor e foca nas décadas de 1960 e 1970, desde as pequenas contravenções, cometidas junto de seus amigos – dentre eles, Tim Maia –, até a amizade com Wanderléa e, principalmente, Roberto Carlos.
Para o diretor, que conheceu Erasmo nas filmagens de “Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa” (1970), o filme é uma espécie de spin-off da trilogia dirigida por seu pai, Roberto Farias, e protagonizada por Roberto Carlos. Quando Erasmo publicou o livro, em 2008, Farias se ofereceu para fazer o filme.
A escolha do protagonista, segundo seu relato, parece ter ocorrido por conta do acaso. Enquanto estudava as possíveis escolhas, encontrou uma foto de Chay Suede e comparou o ator com Erasmo. "Percebi que eles tinham uma energia semelhante", conta. Suede encontrou Erasmo logo depois dos testes e diz que o cantor lhe deu toda liberdade para se sentir à vontade ao interpretá-lo.

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A Gabriel Leone coube o papel do amigo-de-fé de Erasmo, Roberto Carlos. Ao contrário de Suede, Leone não conheceu Roberto, que tem muito cuidado com sua história pessoal – vide a polêmica da biografia não autorizada deste escrita por Paulo César de Araújo e publicada em 2007. Mas, apesar de todo cuidado e da preocupação de como ele reagiria ao assistir, Farias conta que enviou uma cópia do filme a Roberto, que assistiu e chegou, até, a se emocionar. Wanderléa, por sua vez, é interpretada pela doce Malu Rodrigues.
O filme mostra como a música, presente desde cedo na vida do Tremendão, abriu novas portas para Erasmo e o salvou de um caminho mais tortuoso. Como pontua Bianca Comparato, que interpreta todos os interesses amorosos do cantor ao longo do filme até chegar em Narinha, grande amor de Erasmo, "a música transforma vidas". E esta talvez seja a maior mensagem que o filme passa, ainda mais do que a amizade tão bem representada numa das cenas mais sensíveis de todo longa, que é quando Roberto apresenta a canção "Amigo" a Erasmo.
Para Bianca, a ideia de colocar a mesma atriz para interpretar todos os interesses amorosos do protagonista tem a finalidade de mostrar que durante todo tempo ele "estava procurando uma mesma mulher".

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Narrado pelo protagonista, algumas cenas do filme têm quebra de quarta parede. Umas um pouco mais adequadas e mais bem encaixadas do que outras, mas nada para se impressionar. Segundo o diretor, a intenção original era de colocar o próprio Erasmo para narrar o filme, o que, óbvia e infelizmente, não aconteceu.
Erasmo manteve certa distância do filme. Durante a produção, participou apenas da gravação da trilha sonora, que foi uma das primeiras etapas. Apesar do convite do diretor, o Tremendão não visitou os sets de filmagens.
Ao contrário de outros filmes, neste são os próprios atores que dão voz às canções já conhecidas dos biografados. Embora seja relativo, é notável a diferença entre atuações em que os atores têm de dublar com base nas versões originais das canções e outras, como neste caso, em que o elenco canta ao vivo enquanto grava. Por isso, esse é um dos pontos mais fortes do longa.
Segundo Farias, sobre o filme, Erasmo disse que foi fotografado muito “bonzinho”, considerando que ele era um pouco mais “mauzinho”. Chay Suede, até lembra em alguns aspectos o Erasmo que conhecemos, mas isso é um fato: apesar da malícia um tanto introspectiva que o filme tenta mostrar que o biografado tem, parece que o fator “homenagem” pesou mais na hora de contar a história do cantor.

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Os cenários e a recriação deles tal qual eram nos anos representados – destaque para as cenas que se passam no Teatro Record –, bem como os figurinos, são impressionantes e marcam outro ponto positivo para a produção.
A edição é lúdica e dinâmica, chegando a contar com referências a histórias em quadrinhos. O roteiro, que toma muitas liberdades, é sucinto. Algumas datas são alteradas e isso passa a impressão de que foi motivado pela vontade de incluir histórias conhecidas dentro da duração do filme, o que não é necessariamente ruim, já que o resultado entregue é o prometido.

Gabriel Leone, Malu Rodrigues e Chay Suede também interpretam as canções de Roberto Carlos, Wanderléa e Erasmo Carlos no filme
Suede, Leone e Malu levam às telonas o trio mais famoso da Jovem Guarda de maneira carismática e com um ar juvenil atual, mesmo que a história se passe há cerca de 50 anos. Os três superaram a dificuldade que foi encontrar material de arquivo dos artistas que interpretam – tendo em vista que boa parte do material se perdeu ao longo do tempo – e entregam um belo trabalho e, digo, até memorável.
No fim, como bem disse o próprio diretor, MINHA FAMA DE MAU é um filme para ir ao cinema e cantar. É difícil sair da sala sem que pelo menos uma música não esteja sendo reproduzida em looping infinito nos nossos cérebros. Quem viveu a época irá se emocionar com a nostalgia, quem não viveu, sairá com vontade de saber mais. Quem sabe não vem uma continuação por aí!?

*Texto por Bruno Carvalho

Título Original: Minha Fama de Mau
Direção: Lui Farias
Canal/Produtora: LMC LaToller, Indiana Produções, Globo Filmes, Telecine Productions
Ano: 2019
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