Crítica | Sueño Florianópolis


Quem disse que juntar brasileiros e argentinos não dá em coisa boa?
 
SUEÑO FLORIANÓPOLIS, quinto filme dirigido por Ana Katz (vencedora do prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Sundance, em 2017, por “Mi Amiga del Parque”), conta a história de um casal argentino que, depois de 22 anos de casamento, decide “dar um tempo”. Apesar da decisão, viajam de férias com seus dois filhos adolescentes para as praias de Florianópolis (Santa Catarina). A bordo de um Renault 12 sem ar condicionado e com a gasolina no fim, a família conhece, logo no início do seu trajeto, um casal de brasileiros que oferece ajuda.

Lucrécia (Mercedes Morán) e Pedro (Gustavo Garzón), o casal de argentinos, são psicólogos. Os dois são ressentidos e magoados um com o outro – ainda que a cumplicidade entre eles seja inegável. Contudo, tentam demonstrar naturalidade em cada um de seus movimentos. A tentativa, claro, não dura muito tempo.
Mercedes Morán é Lucrécia, matriarca da família de argentinos que vêm passar férias no litoral do sul do Brasil.

Marco (Marco Ricca) e Larissa (Andrea Beltrão) são os brasileiros que os ajudam com o carro logo no começo da história. Os dois são proprietários da casa que a família argentina aluga para passar as férias. Ele é mais expansivo, como um típico brasileiro boa-praça que dá aqueles abraços quebra-costelas em todos que cumprimenta. Ela, um pouco mais contida.

As intromissões dos brasileiros na vida dos hermanos revela e confirma os dramas da família segregada. A relação problemática (sem spoilers) que é criada entre os casais e seus filhos serve não apenas para entregar ao público o passado dos personagens, como também para que eles próprios tenham clareza quanto às intenções de cada um com relação às suas respectivas famílias.

Marco Ricca interpreta o brasileiro "entrão" Marco, que aluga sua casa para os argentinos passarem as férias.

Traições, falta de diálogo e ressentimentos vêm à tona quando os argentinos se abrem à recepção demasiadamente calorosa dos brasileiros que têm tantos problemas quanto eles.

Uma história com tantas nuances e cores a serem percebidas, é de se esperar, precisa ser bem escrita. O roteiro, assinado pela diretora e seu irmão, Daniel Katz, entrega o que promete com delicadeza, sutilidade e sem enrolação – mesmo que isso signifique deixar de lado pontos importantes, como veremos mais à frente. É como se vivêssemos aquele verão de 1990 em Florianópolis, junto com os personagens, sentindo as angústias deles subindo às nossas gargantas.

As atuações, por sinal, é um dos pontos mais fortes do filme. A cumplicidade entre os membros de cada uma das duas famílias e o ritmo seguido pelos atores, de acordo com o roteiro, lógico, em cada passo que dão rumo à amizade que cultivam, dão credibilidade à trama. Os destaques ficam para as atuações de Mercedes Morán, Marco Ricca e Gustavo Garzón.

A personagem de Andrea Beltrão, por outro lado, apesar de ser importante até mesmo para conhecer melhor o personagem de Ricca, não é tão bem desenvolvida no roteiro quanto deveria. Com passado e presente tão relevantes quanto os dos outros personagens, Larissa merecia mais destaque e principalmente por ser representada por alguém com a grandeza de Andrea.

Larissa, interpretada por Andrea Beltrão, é uma das personagens de menor destaque na trama.

Surpreendente e despretensiosa, assim pode ser descrita a coprodução entre Brasil e Argentina. Com mais acertos do que erros, o longa, pode-se dizer, é um retrato de muitas famílias latino-americanas que velam seus problemas e insistem em dizer que está “tudo bem”. No fim das contas, o que o público recebe é um trabalho bem realizado e que se nota o esforço de toda a equipe.

SUEÑO FLORIANÓPOLIS tem previsão de estreia para o próximo dia 15 de novembro.

*Texto por Bruno Carvalho

Título Original: Sueño Florianópolis
Direção: Ana Katz
Canal/Produtora: Campo Cine (ARG) e Prodigo Films (BRA), em coprodução com Groch Filmes (BRA)
Ano: 2018
Avaliação: ★★★

Trailer:


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